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Arraial Moura Brasil . Por Suzana de Alencar Guimarães. O Povo, 1929

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  O Arraial Moura Brasil - Do outro lado da vida.  O Povo, 7 de janeiro de 1929.  Por Suzana de Alencar Guimarães. Quem segue beirando o mar vai encontrar para os lados do Gasômetro, muito além do Passeio Público, um recanto desconhecido de quase toda Fortaleza. Do alto dos morros do Croatá e do moinho, debruçando-se sobre a monotonia de um mar muito verde e muito triste, rolando pelos altos e baixos da areia suja, até chegar à orla das ondas, estende-se a mancha escura dos casebres do Arraial Moura Brasil. De longe ele nos apresenta tal como uma paisagem de postal, um recanto de poesia, de doce e voluntária renúncia á civilização. De perto, é um flagrante de miséria, de pobreza, de infelicidade. Quantas vezes, olhando-o da minha janela, não deixei   que os olhos se perdessem no labirinto dos casebres circundados de coqueiros, entrelaçados de arbustos no grande desejo de auscultar o coração da miséria que ali sofre, que ali sonha. Até que nos últimos dias de novembro recebi

José Levi - Voz do Povão na Praça do Ferreira

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Zé Levi em 1945 Correio do Ceará   A bucólica Fortaleza chegava ao século XX voltada para os jornais, diante dos  movimentos político-sociais que transformavam o país, a Europa e os Estados Unidos. A leitura era o centro das atenções da Praça do Ferreira. Em seguida, os debates acalorados dos seus frequentadores, ou seja, o termômetro político da capital cearense. Por conseguinte, o chefe político era centro das discussões. E nessas rodas não se encontravam apenas os intelectuais, os donos das vagas nos melhores acentos da praça. Populares também tomavam partido e davam opiniões, embora com ressalvas, pois eram os melhores alvos da polícia. Havia um desses cativos, cearense raiz, baixo, deficiente de lardose, com o tórax deformado, cabelos grandes, bom de prosa, que não se intimidava e abria o verbo.   “Trajava casimira e o seu jaquetão enfeitava-se com uma infalível rosa na lapela. Grossa corrente de ouro ligada ao cinto sustentava o relógio, colocado no bolsinho da frente da ca

Jardim Japonês - A Saga do Fujita

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  Do Japão para a América do Sul   Francisco Guilherme em 1978 Kinchio, estado de Kumomoto, Japão. Ali vivia a família Fujita. Problemas financeiros, com sua terra hipotecada e a perda do gestor em 1908, levaram a família a um dilema: continuar ou deixar o país. O fato é que os filhos decidiram não se casar até que o penhor do terreno fosse pago. Só então, em 1912, Jusaku , o mais velho dos quatro irmãos, nascido em 30 de agosto de 1890, partiu para o Peru, fixando-se em Tinta Alta, onde trabalhou em vários setores até montar um restaurante com o pouco de dinheiro que guardara, no que pese as dificuldades com o idioma e com o clima andino, que prejudicava a sua saúde. Rompeu a Primeira Guerra Mundial (1914), repercutindo negativamente na economia. Seu estabelecimento já não dava lucro, de modo que resolveu se aventurar para a Bolívia. Com a minguada poupança, e com os dilemas da época, abriu um hotel com três sócios no país vizinho. Mesmo assim enviava dinheiro para a mãe e os ir

OS GRANDES FEITOS DA ABOLIÇÃO NO CEARÁ - ENTREVISTA COM O ABOLICIONISTA ISAAC AMARAL

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  OS GRANDES FEITOS DA ABOLIÇÃO, NO CEARÁ  O Nordeste 09 a 20 de janeiro de 1933 (Cinquentenário da Libertação dos Escravos) Prodomos do movimento libertador - Dissidência - Os da LIBERTADORA que restam - Como se originou a famosa Sociedade - O fechamento do porto, Dragão do mar e a greve. O Ceará está na fase histórica da comemoração da abolição dos escravos   em seu território, fato que lhe granjeou eterna glória por ter antecedido cinco anos a Lei Áurea. Quando a augusta Princesa D. Isabel assinou a Lei em 13 de maio, já a Província do Ceará estava livre! Acarape, o primeiro município redentor do Império, celebrou no dia primeiro (de janeiro de 1883) a festa cinquentenária da abolição, e São Francisco da Uruburetama (Itapagé), o segundo município, fará no dia dois próximo. É, portanto, um período histórico de excepcional relevo o que se recorda. E, como a história da abolição ainda não foi escrita, não deixa de despertar justo interesse a palavra autorizada de quem, àquele